domingo, 5 de setembro de 2010

Teresinha

Era uma vez uma boneca de pano. Cabelos de lã, amarelos. Uma saia azul com um retalho verde. Uma camisola aos quadradinhos brancos e vermelhos. Dois olhos azuis sem qualquer brilho. Um sorriso costurado na cara. Foi dada como prenda de natal a uma menina de oito anos, que vivia num prédio no meio da grande cidade, a Catarina. Essa menina deu à boneca o nome de Teresinha. Catarina e Teresinha eram como melhores amigas. Quando Catarina ia para a escola, punha Teresinha na mochila, e não deixava que nenhuma das suas amigas brincasse. Quando Teresinha estava em casa, sentava-se na mesa da cozinha e servia uma caneca de chá a Teresinha.
Quando Catarina fez dez anos, o seu avô presenteou-a com um telemóvel. Catarina não o largava, mas de vez em quando ainda tomava um chá com a Teresinha. No Natal do mesmo ano, a sua tia ofereceu-lhe um estojo de maquilhagem. Catarina telefonou a todas as suas amigas para irem a casa dela experimentar. Mas, quando não tinha nada para fazer, punha algum batom na boca de Teresinha.
Quando Catarina fez onze anos, a sua mãe ofereceu-lhe um computador. Ela estava viciada, e raramente brincava com Teresinha.
Quando Catarina fez dezasseis anos resolveu fazer uma mudança no quarto; mudar tudo de lugar, pintar as paredes de vermelho, ter um armário novo. Queria pôr a cama ao lado da janela e a secretária ao pé do armário, que iria ficar do lado direito da porta. Começou a empurrar a cama, a empurrar, a empurrar… e a cama não saía do mesmo lugar. Alguma coisa estava debaixo da perna da cama. Catarina viu Teresinha esmagada pela sua cama, com a saia rasgada, o branco da camisola transformado em cinzento, a cara cheia de manchas pretas… e a boca, que antes era um sorriso, com as pontas descosturadas e caídas para baixo.
Catarina deixou Teresinha em cima da cama e foi para a escola. Quando voltou, já Aurora, a empregada, a tinha deitado fora, e nunca mais se ouviu falar da Teresinha.

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