sexta-feira, 30 de abril de 2010

Praia

6 horas da manhã, num domingo de Verão. Eu sou a única, por enquanto, a caminhar naquela paisagem. Pouco barulho fazem os meus passos, e quando olho para trás, vejo a prova de que ali estive, até o vento a apagar. Atrás de mim vejo as dunas brancas, à minha frente vejo a imensidão azul. Reparo como ela se abana e se carrega para a minha a direcção, como se me oferecesse um pedaço dela.
Deixo que ela me molhe os pés. Entretanto, ela recua, quase que a ouço a dizer "vem". E vou. Deixo que ela me cubra e que me refresque, que não me deixe sair.
Ela deixa-me deslizar sobre ela, acompanha-me, aliás.
Quando o tempo e o cansaço me obrigam a sair da imensidão azul, já se vêem outras pegadas, outras pessoas. Aquela beleza de antes voltará às 6 horas do dia seguinte.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tristeza.

A tristeza é fria, escura, vazia, fechada, e apertada. Tenho medo dela, sei quando ela vem, por isso evito-a. Muitas vezes consigo fugir-lhe, então vou sendo feliz.
Como as minhas tristezas não foram muitas, lembro-me de quase todas, e essa é a pior parte. Gostava de poder esquecer.
Da última vez que a tristeza me apanhou, foi inesperadamente. Primeiro fiquei irritada, como se ardesse. E nervosa, disse coisas que não devia. E depois já não ardia, fiquei fria e vazia porque estava triste. Enquanto chorava a caminho de casa, deixei de ver as coisas, como se estivesse dentro de uma sala escura. E por onde passava tinha que ouvir as pessoas a perguntar se estava bem, como se não fosse nada óbvio. Era sufocante.
Mas a razão dessa tristeza foi algo que se apagou facilmente. Não precisei mais que um pouco de água. E voltei a sorrir.

A tristeza é fria, escura, vazia, fechada, apertada e dói muito. Mas não é eterna.





Para a Mariana, ela é parte da minha felicidade.

Eu e a Zenguita




O meu nome é Maria. Adoro falar, falar alto para que todos me ouçam. Gosto de dar a minha opinião sobre variados temas, mesmo aqueles que não domino.Apesar de gostar da minha privacidade, uma hora ou duas a ouvir a minha música sem que ninguém me incomode, sou feliz quando estou rodeada de pessoas. Adoro festas. Falo com quem me apetecer falar mesmo que não conheça o individuo. Passo a conhecer, ora!
Gosto de cantar e gritar no meio da rua e não me importo que olhem para mim quando o fizer.
90% por cento das pessoas que conheço sabem disso, vêem isso claramente.
Em relação aos outros 10%, compreendo que me achem tímida e calada, talvez até um pouco anti-social, porque é isso que eles vêem. Mas eu já cheguei à conclusão de que eles não me conhecem, conhecem a Zenguita. Ela é que fala pouco, é tímida, só conhece as pessoas às quais é apresentada e só fala se alguém disser alguma coisa primeiro. Mas ela odeia que lho digam.
A Zenguita admira-me. Quer ser igual a mim, já me disse isso vezes sem conta. E ambas sabemos que ela vai ser,
Mas até isso acontecer, recomendo àqueles 10% que leiam isto.

domingo, 25 de abril de 2010

Ele


Encontrei este texto por acaso.Escrevi-o há 3 anos, mas corrigi agora algumas coisas:

Ele tinha Os lábios mais secos que as folhas que caem no Outono, a pele branca e delicada como um floco de neve e os olhos tristes como um dia cinzento. Caminhava sozinho na noite, tão vazia como a sua casa escura, onde só Ele morava.
Assim andava, acompanhado pela tristeza. Os seus passos eram silenciosos mas ecoavam no seu coração vazio.
Ele sentou-se na areia da praia, e,enquanto olhava a lua, perdeu-se nos seus pensamentos.
Então caminhou até à beira do mar. A água fria tocou-lhe nos pés, enchendo o coração que antes era vazio e iluminando a pele branca. Nessa noite, Ele sorriu pela primeira vez.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vozes no silêncio

Eu estava sozinha, mesmo como se fosse realmente sozinha. Estava sentada num muro a ouvir o silêncio. Na casa à minha frente podia ver um homem na cozinha. Ele olhava para baixo, portanto não me viu. A certa altura, saiu de casa para limpar qualquer coisa.

"Se ele me vê aqui, vai achar que não tenho amigos ou algo assim"

Mas ele nem olhou para mim. Pareceu erradamente que não reparara em mim porque era insignificante. Mas não pensei mais, virei cara para outro lado.
Os meus olhos atravessaram a rua vazia, o terreno baldio, a plantação e chegaram, finalmente, ao limite: As casas ao longe. Algumas com as luzes acesas, e outras abandonadas.
Deixei os olhos pousados sobre essas casas, mas na verdade não estava a olhar para elas. Era como se tivesse os olhos fechados.
Enquanto isso, comecei a ouvir uma voz vinda daí. Era uma criança que gritava "NÃO!" e chorava muito alto. E uma segunda voz gritou com ela.
Voltei logo a ver onde tinha os olhos e a prestar atenção aos sons.
E depois voltou o silêncio. Fiquei a olhar uma das casas abandonadas, pensando apenas que não quereria morar perto dela.
Passou tudo muito rápido, poderia até chamar-lhe um sonho. Excepto pelo facto de que quando voltei a mim, o mesmo homem estava na cozinha, as mesmas casas se viam por trás da plantação, e eu continuava sozinha em cima do muro.