quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vozes no silêncio

Eu estava sozinha, mesmo como se fosse realmente sozinha. Estava sentada num muro a ouvir o silêncio. Na casa à minha frente podia ver um homem na cozinha. Ele olhava para baixo, portanto não me viu. A certa altura, saiu de casa para limpar qualquer coisa.

"Se ele me vê aqui, vai achar que não tenho amigos ou algo assim"

Mas ele nem olhou para mim. Pareceu erradamente que não reparara em mim porque era insignificante. Mas não pensei mais, virei cara para outro lado.
Os meus olhos atravessaram a rua vazia, o terreno baldio, a plantação e chegaram, finalmente, ao limite: As casas ao longe. Algumas com as luzes acesas, e outras abandonadas.
Deixei os olhos pousados sobre essas casas, mas na verdade não estava a olhar para elas. Era como se tivesse os olhos fechados.
Enquanto isso, comecei a ouvir uma voz vinda daí. Era uma criança que gritava "NÃO!" e chorava muito alto. E uma segunda voz gritou com ela.
Voltei logo a ver onde tinha os olhos e a prestar atenção aos sons.
E depois voltou o silêncio. Fiquei a olhar uma das casas abandonadas, pensando apenas que não quereria morar perto dela.
Passou tudo muito rápido, poderia até chamar-lhe um sonho. Excepto pelo facto de que quando voltei a mim, o mesmo homem estava na cozinha, as mesmas casas se viam por trás da plantação, e eu continuava sozinha em cima do muro.

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