domingo, 31 de janeiro de 2010

Textos Maravilhosamente feios

Escrevi este texto há alguns meses... Espero que gostem!

A Deolinda tinha um problema de queda de cabelo. Por isso teve que cortar os seus cabelos muito compridos que não passavam das orelhas. Triste com a vida, Deolinda foi toda contente para casa da sua melhor amiga Gervásia. Elas odiavam-se. Deu centenas de três batidas na enorme porta pequena feita de pau férreo e o som da campainha ouviu-se em todo o lado. Gervásia, com um ar de sono, abriu cheia de energia a porta aberta para Deolinda entrar. Deolinda chorava sem lágrimas no ombro do cotovelo da amiga. Esta deu-lhe montes de poucos conselhos prestáveis e idiotas. Satisfeita e com impressão de que algo faltava, Deolinda levantou-se em pé da cadeira onde não estava sentada e saiu da grande casa minúscula de Gervásia.

A pobre careca de cabelos negros tinha apenas uma preocupação entre muitas: O seu namorado. Ele era um homem tão esquelético que parecia um lutador de sumo, media 1,90m de pequenez e tinha uma beleza exageradamente feia. Deolinda tinha medo que ele não gostasse do seu novo cabelo, mas estava confiante.

Vestiu o seu mais bonito vestido roxo amarelado, que era horrível. Maquilhou-se com a maquilhagem mais cara que comprou na feira a dois euros. Pôs uns sapatos com um salto muitíssimo alto que a faziam ficar mais pequena. Por fim, sem acabar, mandou uma mensagem ao namorado: “Vem tr cmg ao park das rosas daki a 1h. PS: s n tivers la daki a 10min ta tdo acbdo entre nox!”Deolinda quis marcar o encontro no parque das rosas porque não tinha qualquer tipo de flor, e ela tinha uma alergia ao pólen que a fazia sentir –se bem...mal.Depois de uma eternidade, passado pouco tempo, o rapaz chegou. Deolinda fez um pequeno sorriso até às orelhas e perguntou se ele achava que ela estava bonita.

O rapaz sorriu-lhe sériamente e respondeu: “Tu estás linda, Didi, o teu cabelo é que não está lá muito bem”. E insultou-a com os piores elogios. Deolinda ficou nervosa e foi-se embora calmamente. As lágrimas secas rolavam pela branquidão do seu rosto moreno enquanto ela corria apressadamente muito devagar. Ao passar em frente a uma florista que vendia roupas em segunda mão, foi contra um homem que tinha acabado de comprar uma tulipa de mangas curtas. Estatelaram-se os dois, em pé, caídos no chão. O homem esfolou o joelho e o sangue pisado jorrava da ferida sem parar.

A vendedora que estava a fazer umas compras saiu da loja para ajudar a Deolinda e o homem. Deolinda pediu obrigada à vendedora e disse desculpas ao homem da tulipa de mangas curtas e continuou a correr para a casa dos pais. Entrou lá fora e viu o pai sentado num sofá de vidro a ver televisão desligada. Foi até à cozinha, onde a elegante mãe gorda cortava tomates vindos directamente dos arrozais da avó Alice. Deolinda explicou tudo à mãe.

Ouviu montes de frases que as nossas mães filhas do mesmo pai costumam dizer: “Esse rapaz maravilhoso não é para ti! Eu avisei-te, antes de nasceres, que devias ter cuidado com essas coisas.”

À noite, mais ou menos à uma hora da tarde, Deolinda foi comprar uma peruca castanha e passou a usá-la todos os dias e todas as horas, sem nunca tê-la na cabeça. Acabou com o namorado, sugerindo um novo começo, e nunca mais teve que se preocupar com a sua vida preocupante.


sábado, 23 de janeiro de 2010

Wiegenlied- Maria Kopke

Olá! Quero partilhar com vocês este vídeo onde canto a música "Wiegenlied" de Franz Schubert