terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

... Continua tudo igual

Ando às voltas no quarto. Deito-me no chão de barriga para cima e olho para o tecto. Levanto-me e apago a luz. Deito-me outra vez e olho outra vez para o tecto. Levanto-me e ponho música. Volto a deitar-me e a olhar para o tecto. Fico a olhar. Reconheço a música e canto-a. Paro de cantar para ouvir a música. Reparo que o cantor tem uma voz bonita. Reparo que o solo da guitarra dura muito tempo. Presto atenção ao ritmo da bateria. Presto atenção à letra da música, e penso nela. Associo a letra da música à minha vida. A música acaba. Aprecio o silêncio, e gosto dele. Começa outra música. Canto-a, e depois paro de cantar. Reparo na voz do cantor, no solo da guitarra, no ritmo da bateria e na letra da música. Fecho os olhos. Penso em coisas boas. Penso em coisas óptimas. Penso em coisas estranhas, impossíveis, difíceis. Penso em coisas más, abro os olhos e olho para o tecto. Acaba a música e aprecio o silêncio. Começa outra música, mas não gosto dela. Levanto-me e mudo de música. Olho para o quarto, sinto-me bem com a escuridão, e depois deito-me. Volto a pensar em coisas más. Lembro-me de coisas boas para esquecer as más. Apercebo-me de que não consigo esquecê-las, conformo-me e penso em outras coisas. Pergunto-me o que vai acontecer amanhã. Deixo de me aperceber das músicas a acabar e a começar. Fecho os olhos e volto a abri-los. Faço isso muitas vezes. Deixo- os abertos e olho para o tecto. Imagino se o tecto não fosse do meu quarto. Penso em mim. Penso se estou feliz ou triste, e chego à conclusão de que não sei. Levanto-me. Desligo a música. Acendo a luz e olho para o relógio. Surpreendo-me com o tempo que passou. Pego numa folha e numa caneta. Escrevo isto. E continua tudo igual.